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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Alberto Caeiro da Silva - Heterônimo de Fernando Pessoa

Lisboa, 16 de Abril de 1889 ou Agosto de 1887 – Junho de 1915 foi uma personagem ficcional (heterónimo) criada por Fernando Pessoa, sendo considerado o Mestre Ingénuo dos restantes heterónimos (Álvaro de Campos e Ricardo Reis) e do seu próprio autor, apesar de apenas ter feito a instrução primária. Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão ("pensar é estar doente dos olhos"). Proclama-se assim um anti-metafísico. Afirma que, ao pensar, entramos num mundo complexo e problemático onde tudo é incerto e obscuro. À superfície é fácil reconhecê-lo pela sua objetividade visual, que faz lembrar Cesário Verde, citado muitas vezes nos poemas de Caeiro por seu interesse pela natureza, pelo verso livre e pela linguagem simples e familiar. Apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos" que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade. É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade. Segundo a cronologia mais divulgada, nasceu em 16 de Abril de 1889, em Lisboa. Órfão de pai e mãe, não exerceu qualquer profissão e estudou apenas até a 4º classe. Viveu grande parte da sua vida pobre e frágil no Ribatejo, na quinta da sua tia-avó idosa, e aí escreveu O Guardador de Rebanhos e depois O Pastor Amoroso. Voltou no final da sua curta vida para Lisboa, onde escreveu Os Poemas Inconjuntos, antes de morrer de tuberculose, em 1915, quando contava apenas vinte e seis anos. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Cara rapada, louro sem cor, olhos azuis. Ideologias Mestre dos outros heterónimos e do próprio Fernando Pessoa Ortónimo porque, ao contrário destes, consegue submeter o pensar ao sentir, o que lhe permite: viver sem dor; envelhecer sem angústia e morrer sem desespero; não procurar encontrar sentido para a vida e para as coisas que o rodeiam; sentir sem pensar; ser um ser uno (não fragmentado); Poeta do real objectivo, pois aceita a realidade e o mundo exterior como são com alegria ingénua e contemplação, recusando a subjectividade e a introspecção. O misticismo foi banido do seu universo. Poeta da Natureza, porque anda pela mão das Estações e integra-se nas leis do universo como se fosse um rio ou uma árvore, redendo-se ao destino e à ordem natural das coisas. Temporalidade estática, vive no presente, não quer saber do passado ou do futuro. Cada instante tem igual duração ao dos relâmpagos, ou à das flores, ou ao do sol e tudo o que vê é eterna novidade; É um tempo objectivo que coincide com a sucessão dos dias e das estações. A Natureza é a sua verdade absoluta. Antimetafísico, pois deseja abolir a consciência dos seus próprios pensamentos (o vício de pensar) pois deste modo todos seriam alegres e contentes. Crença que as coisas não têm significação: têm existência, a sua existência é o seu próprio significado. Ao todo tem 104 poemas, 49 em O Guardador de Rebanhos, 6 em O Pastor Amoroso e 49 em Poemas Inconjuntos. Temas Os seguintes temas são os mais abordados ao longo da sua poesia e os seus respectivos chavões de identificação. Objectivismo: atitude antilírica; atenção à eterna novidade do mundo; poeta da Natureza; Sensacionismo: poeta das sensações verdadeiras; poeta do olhar; predomínio das sensações visuais e auditivas; Antimetafísico: recusa do pensamento e da compreensão (pensar é estar doente dos olhos) recusa do mistério e do misticismo; Panteísmo naturalista: Deus está na simplicidade e em todas as coisas. Estilo Estilo discursivo. Pendor argumentativo. Transformação do abstracto no concreto, frequentemente através da comparação. Predomínio do substantivo concreto sobre o adjectivo. Linguagem simples e familiar. Liberdade estrófica e métrica e ausência de rima. Predomínio do Presente do Indicativo. Raro uso de metáforas.
"Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto. E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz." (Verso IX - Sou um Guardador de Rebanhos)
"O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de, vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo... Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender ... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar ... Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar..." (Verso II-O Meu Olhar/O Guardador de Rebanhos)

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